terça-feira, 29 de setembro de 2009

UNIVERSO EM EXPANSÃO

Existem momentos em que o universo se encolhe
E toda a energia do cosmos se fixa em uma única estrela
E ela, orgulhosa, faz jus à atenção recebida
As outras estrelas afastam-se ou escondem-se atrás de uma nebulosa
e ofuscam seu próprio brilho
Há momentos em que a Lua inveja a estrela-mor
A Lua, desdenhosa, inconstante,
de tempos em tempos escolhe furtar-se ao olhar da Terra
Na verdade, o que esconde é esse seu complexo
de depender de uma fonte externa para emanar seu brilho
Já o Sol é previsível, simples e de uma presença constante
Orgulhoso, sustenta seu brilho próprio, faz crescer plantas, gera a vida,
mas também seca os rios e afasta a chuva
Está tão cheio de si que nem se percebe nisso que faz
Mas o Sol precisa da Lua quando, de tempos em tempos,
necessita brilhar em outro lugar
Lua e Sol se complementam:
por trás de todo grande Sol, existe sempre uma pequena Lua
A Lua é a única capaz de captar para si a luz do Sol
Já o Sol é a própria luz
Na vida, fizeram uma escolha
entre o Ser e o Ter.

domingo, 27 de setembro de 2009

LIBERTAR-SE

Libertar-se é quando você solta as amarras
E sabe que não tem mais volta
Quando você rompe o ponto de comunicação com o continente
E sabe que nunca mais verá aquele simpático povo
Que tanto fez parte da sua vida
E, mesmo você não admitindo,
tornou-a mais prazerosa.
Era bom, no fim de tarde, saber o que ele fazia
o que falava e aonde ia
Libertar-se é romper com o cotidiano, o seguro, o conhecido
É armar-se de coragem para, a partir daí
Não remeter mais seu discurso a ele,
tentando provocar atitudes com gritos silenciosos
A partir daí, ser só você, de verdade agora,
Sem desculpas, nem cartas na manga
É ter a coragem de assumir para você mesmo
com todos os riscos que isso implica,
É expor-se e dar a cara a tapa, sem respaldo
Para, finalmente, ser a partir de você mesmo
Podendo se amado ou rejeitado a partir disso
Pelo menos é um meio de vir a ser quem você realmente é.

SURPREENDA-SE

Surpreender-se é quando nos vemos indo além do que nos víamos capazes
É superar o próprio cansaço, o bolo no estômago e a timidez
É quando o corpo não faz mais limite
E mesmo contra todos os indícios o Desejo fala mais alto e você sai
Surpreender-se também é dar de cara contra o muro
É quando se descobre o próprio limite
É quando Desejo e agir se descompassam
E o resultado almejado não é o encontrado
O bolo no estômago volta ao perceber-se que não se pode tudo
É procurar uma tarde inteira e não achar um vestido que lhe sirva
E então se perguntar:
"Alguém chegou antes de mim?
Acabou o estoque?
Ou sou eu que estou fora do padrão?"
Ou talvez, no fundo, no fundo
o problema seja não saber ao certo que tipo de roupa se procura
Se é esporte, social ou largada
Se é para uma noite de festa, para uma estação ou para a vida toda
Se é um vestido simples, discreto,
ou despojado, audacioso, decotado
Estampado ou liso?
Curto ou comprido?
Novo ou velho?
A verdade é que são tantas opções e modelos
que fica difícil sem se saber ao certo o que se quer
Ainda mais quando não se está a vontade na própria pele
Talvez o exercício seja o de andar nua por um tempo
Quam sabe neste meio tempo um estilista não me surpreenda?

Meu mundo de espelhos (ou ser humano)

Cansei de viver de imagens
Protegida por um vidro que me permite
ver só o lado belo das coisas
Quero me encontrar com o feio
o pesado, o real das relações
Descer ao sub-mundo dos gostos, do quente,
feito de suor, língua e massa
Cansei do olhar, da voz, da imaginação,
dos pensamentos sublimes e das promessas porvires
Recortados para mostrar
o s(m)eu melhor ângulo
Tal qual um conto platonesco,
me armo de coragem e saio da caverna
gritando com todos os pulmões:
"Espelho, espelho meu, existe alguém mais falso que eu?"
De longe tudo é belo
É preciso coragem para aceitar a feiúra
em mim e no outro
Ao quebrar o espelho
aceito meus sete anos de azar
Esperando que um dia,
eu os encare sem juízo de valor
Apenas como algo que cabe a mim
não porque sou melhor nem pior que ninguém
Apenas porque sou humano.

sexta-feira, 25 de setembro de 2009

SOBRE A BREVE(IDADE) DO AMOR

Que o meu amor era moleque
novo, espontâneo, ingênuo até,
que fala tudo o que sente
E impaciente, não sabe esperar
Exigente, bate o pé até conseguir o que quer
Não tem ainda o ar da maturidade
A capacidade de sonhar junto,
mesmo à distância, um futuro promissor
Necessita do aqui e agora,
do olhar, da voz, do toque
Tudo isso junto e misturado
E quanto mais, melhor
Não tem limite, só intensidade
É um moleque mimado
Mas também cativante
por sua vitalidade e dedicação integral
Isso tudo eu já sabia

O que até outro dia eu não sabia
Era que o amor morre
Que ele some, vai embora
Quase nunca por vontade própria
Mas, um belo dia, quando amanhece,
e vamos lá procurá-lo
ele não está lá,
foi reinar em outros quintais
Ele é moleque levado,
quando não vê mais moradia
(ou se enjoa da mesma)
Escapole-se por cima do muro
e vai-se embora, sem aviso prévio
O que fazemos então com o "até que a morte nos separe"?
Com esse amor passarinho,
estou mais para Vinícius
Sendo assim, será que vale a pena?
Pessoa responde e eu não posso revidar
O que vale é abrir as portas e janelas
e cuidar dele em tudo o que ele exigir
Desta forma, nos surpreendemos
com o que ele pode nos proporcionar a cada instante
Há beleza nisso também
O amor moleque tem a possibilidade
de ganhar experiência, maturidade
Viajar a lugares distantes
e conhecer línguas diferentes
E daí descobre que
ele se conhece mais, a cada encontro
A criança vive a intensidade do momento
Ela sabe
que não é necessário um futuro
para valer a pena o presente.

sábado, 19 de setembro de 2009

COMUNICADO

Amor da Minha Vida:

Venho por meio deste comunicar
que cansei de lhe procurar
A partir da presente data
é você que vai ter que me encontrar
E faça o favor de se identificar
Que estou tão descrente do amor
que é capaz de nem lhe reconhecer
e lhe mandar batatas plantar
e as asinhas recolher
Agora sou eu que me recolho
para dentro do casulo
Faça o favor de fazer o que a boa educação mandar
De bater antes de entrar
E entre de levinho
que é pra eu sentir o coração palpitar
ao sentir o seu cheiro
e os seus passos escutar
E dar tempo ainda de a emoção controlar
e o sorriso conter
que é pra não te assustar
E ao sentar, favor farás em não cuspir no chão
(tal qual o namorado da pombinha)
nem na saída cagar
Mas, se esta que vos carrega
encontrar o certo destinatário
Não precisarei esperar
fazer aniversário
para que possamos nos encontrar

Sem mais para o presente,
me despeço em mais alto apreço

Atenciosamente,

Amor da Sua Vida
(agora só falta o endereço)

(Pro)texto Feminino

Nós, habitantes do Planeta Escuta
(e agregadas)
Viemos aqui reivindicar a volta dos homens!
Queremos voltar a ser mulheres
Queremos ser conquistadas e tomadas de nossas torres
Tudo bem que temos construídos torres mais altas
Mas cadê vossa tão propagada evolução tecnológica?
Se vossa armadura é só o que restou...
Se vossa espada agora é de borracha?
Vós, que éreis conhecidos como exército guerreiro
Que houve?
Tudo bem que nós aprendemos a arte da montaria também
Mas ainda há cavalos para vós
E se tiverem a destreza e a força necessárias
vós é que deterão as rédeas da carruagem
Não vêem vós que ansiamos por isso?
Por sermos arrebatadas com um torpedo no meio de nossos devaneios
Não queremos mais ter que sair na floresta, sozinhas, à procura de heróis travestidos de sapos
Que choramingam pelo beijo da donzela para voltar ao estatuto de homem
Não! Queremos nós sermos as resgatadas de nosso sono com um cálido beijo
(que não precisa ser tão cálido assim...)
De onde tiraram a idéia de que para ser valente tem que se conquistar um exército todo?
Quando na verdade a conquista maior é cotidiana, do mesmo território...
Esse é o nosso protesto...
Se não formos atendidas, faremos greve
E ai de vós, já que não necessitamos mais de vossas senhorias
Mas podemos sim continuar desejando-vos
Por querer, não por precisão...
Contanto que sintamos que continuamos sendo o objeto de vosso desejo
Mais ainda, que sintamos que vós ainda desejais
pois mais parece que vós ainda estais enfeitiçados
pela Feiticeira Branca, a primeira de todas
Sentimos informar-lhes, mas enquanto não quebrarem tal encantamento
Não serão capazes de assumir o estatuto de príncipes guerreiros
Até lá, serão somente as armaduras de plástico e as espadas de borracha
De longe, até que vestem bem
mas de perto, no momento da batalha, desmantelam-se ao primeiro toque.
Vós achais que não percebemos,
mas nós intuímos...e confirmamos..
E estamos cansadas de, sabendo disso,
termos que tratá-los com todo cuidado,
sendo que os bibelôs deveriam ser nós
Por tudo isso, pedimos encarecidamente
que os homens, enviados para outro planeta,
estabeleçam novamente contato
e retornem ao território que sempre vos pertenceu

Eldorado

Onde mora essa terra tão distante
onde todos são felizes
e as pessoas são sinceras
e não têm medo de amar?
E é possível falar tudo
e se encontrar com o outro
sem precisar abrir mão de si
Onde as coisas se equilibram e é possível ter chocolate quente e cervejada
Onde as ruas têm nomes de flores
E as pessoas têm nome daquilo que são
E não há mais desencontros
Cada pessoa só tem o direito
de se relacionar com alguém
que quer o mesmo que ela
Será o Paraíso?

A ROSA BRIGOU COM O CRAVO

De que adianta
ser rosa formosa
se o cravo mimoso
não quer lhe cheirar?
A rosa orgulhosa
é na verdade medrosa
Precisa do olhar de aprovação
para aquietar o coração
E para ter isso
é capaz de comoção
Mas o cravo bandido
não demonstra cooperação!
E a rosa, despetalada,
mais uma vez de espinhos
torna-se armada
É possível assim ser amada?

Tentando decifar o incompreensível

Quis enganar meu coração
Tomar um atalho
E chegar logo ao resultado sem passar pelo processo
Mas, já sou criança velha demais
E não tenho mais o mesmo olhar inocente e impetuoso sobre a vida
Já não tenho mais o mesmo desprendimento e a mesma coragem
Mas ainda olho com perplexidade
e tento decifar o incompreensível
Uma velha sábia certa vez me disse:
"Para ter é preciso investir"
Mas, velha, senhora,
para investir é necessário um alvo
E em meu peito fez ninho um pássaro de fogo
que não se deixa guiar pela razão
Ele quer voar e voar
e ás vezes arrisca-se dando vôos rasantes
só pra provocar os caçadores
Ah, doce ilusão!
Ele já está capturado...
suas asas pesam e atraem-no para o chão
E se ele se sente tão pesado
como conseguirá alçar vôo?
Conseguirá adptar-se à vida terrena?
Ou morrerá dia a dia
na peregrinação por um ninho
que o ajude a recuperar-se
e o prepare novamente para alçar vôo?
Mas dessa vez, não mais sozinho

quinta-feira, 17 de setembro de 2009

Era possível ser feliz?
Nos caminhos e descaminhos
nos percalços do desejo
nos desvios tão intencionais...
A única certeza era de que preciso era viver
e seguir adiante
até que se encontra em lugares conhecidos
velhas ruínas, velhos amigos,
E bem na porta da pirâmide a esfinge pergunta:
"para onde está indo?"

Novidade de Vida

Os sonhos de uma vida
Repentinamente são abortados
O trabalho de curetagem
se encarrega de remover
os resquícios do que antes
dava sentido à existência
Mas, no momento seguinte,
o vazio deixado
abre para a possibilidade de novas habitações
Novos sonhos sendo gestados
Com a nova compreensão
de que muito antes de ser dois
é preciso ser um primeiro.

O Revés ou o Medo

Quem dera fosse tudo tão perfeito
Mas havia forças maiores que a própria vontade
O real, que se impunha para além do ideal
E seu medo de desvanecer-se
De se entregar tão completamente
que não saberia voltar
O medo de perder-se
De admitir que precisa tanto desse outro
que não saberia mais viver sem ele
Tudo isso a faz recuar
Defender-se de sua própria sensação de vulnerabilidade
E então ela ataca, desdenha,
Aponta para a falta no outro
E este, que era para ser o encontro,
pulveriza-se no ar
em mal-entendidos, ditos e des-ditos
Ataques e pedidos de desculpa
E o macho, ferido e confuso,
Cansa logo da batalha
Ele, tão simples e objetivo.
Perde-se nos meandros, no ir e vir contínuo
E num desses afastamentos
Ele não volta mais
Solta a corda e desiste
Vai jogar baralho e beber cerveja
e aos Domingos, futebol
É mais fácil ser feliz assim
E ela, sozinha, encontra-se a si mesma.

O Direito ou o Gesto

Quando duas almas se encontram
Não é necessário esforço
Basta um cruzar de olhares
Não é preciso jeitos, trejeitos, nem jogos
Aperna se cruza naturalmente
O gesto se torna espontâneo
Não é necessario perfeição
pois as intenções transparecem
Nem é preciso pensar
no que fazer pra agradar
Tudo encanta:
o jeito de falar sussurrando,
o olhar de desdém,
o reencontro dos lábios após um sorriso,
e o modo como ele aperta os olhos ao falar de coisas sérias
Cada palavra tem um peso
O gesto se torna prolongado,
e o abraço demorado
De repente, fica-se espontâneo, engraçado, inteligente
O tempo para
Um só toque e o arrepio
O corpo responde,
as mãos gelam,
e o olhar se acende
O coração dispara
e o riso vem fácil
O gesto se torna apertado
De repente, sente-se a mais sexy das mulheres
As distâncias diminuem
E o gesto torna-se urgente...
...Naquele momento, tudo parecia possível:
aceitar as diferenças,
reencontrar-se após desencontros,
desvanecer os maus entendidos.

Tempos Modernos

Era terça feira, verão de 1977
A noite exalava odores doces e inebriantes
O calor era isuportável,
E aquela menina acreditava estar tentando aprender
a ser feliz sem ter alguém para amar
No rádio da sala,uma canção ecoava ao longe:
"Terezinha de Jesus, de um tombo foi ao chão,
acolheu três cavalheiros, todos três chapéu na mão
O primeiro foi seu pai, o segundo seu irmão
O terceiro foi aquele que Tereza deu a mão"
Ah, o doce momento em que a menina abandona as coisas de menina
e escolhe ser resgatada de sua queda
Mas porque ela, mesmo tendo se certificado de que soltara a âncora,
depois de se deixar navegar ao sabor do vento,
acabara de novo na mesma praia?
Porque ela insistia em navegar pelos mesmos caminhos?
porque, pra chegar no mesmo lugar?
Desta forma, o tempo foi passando
Ela já não era mais menina, e então, o que faria com os sonhos da menina?
Sonhos estes tecidos um a um nos vestidos das bonecas,
como sua mãe lhe ensinara outrora,
os segredos de ser uma boa moça: aprender a bordar,
a preparar um guizado e doces babas-de-moça
A ser esposa dedicada e fiel,
obediente e solícita ao marido
E mesmo sabendo de tudo isso,
porque ela não deixava o destino escolhê-la?
Porque achava ela estar acima de tudo aquilo?
Achava-se boa demais pra esperar?
Queira ela mesma fazer o próprio caminho?
Porque então insistia em andar sempre pelo mesmo?
Falsa, falsa busca pela liberdade!
Se estava tão presa ao pé da mesa, de modo a escolher sempre a mesma trilha
Ou até variava,fingindo acreditar no conselho do lobo e pegava o caminho mais comprido
Para no fim, chegar no mesmo lugar...
Seria então a sua escolha casar com a própria vontade de escolher?
Conseguiria ela um dia abrir mão disso tudo,
para então dar a sua mão e aceitar ser escolhida?

Conto de Fraldas

Nos tempos de antigamente, quando ainda os animais falavam com as pessoas,
numa noite de luar, Mamãe Ganso toma uma decisão
Chama o Gato de Botas e lhe diz: "pode ir,
já entendi que não tem lugar pra mim na tua vida"
O gato eriça o pêlo e seu olhar se acende
Ao ver a excitação do gato ao ser liberto, o rosto de Mamãe Ganso se anuviou
O gato então lhe contestou:"Mas também, Mamãe Ganso, se você queria alguém pra ficar,
não deveria ter escolhido um gato!"
"Eu sei, querido, é que achei que poderia convencê-lo a mudar sua natureza..."
"Acaso pode um gato deixar de ser gato?"
"Você tem razão, não pode, eu é que tenho que mudar essa minha teimosia..."
Então, compadecido, antes de sumir entre os telhados, ele
decide compartilhar um pouco de sua sabedoria com Mamãe Ganso:
"Pela tradição chinesa, quando vamos dar qualquer coisa para alguém,
temos que fazê-lo com as duas mãos. Esta é uma forma de demonstrar respeito
e dedicar total atenção a ela no momento de lhe oferecer algo"
Mas Mamãe Ganso não tem tempo para antigas estórias,
já se levantara e estava mexendo a panela,
enquanto recolhia a roupa do varal
e consertava o cano da pia que estourara mais uma vez
O gato então, antes de escapulir pela janela pergunta:
"E na sua vida, Mamãe Ganso, tem lugar pra um gatinho?"
Ela, sem prestar muita atenção diz:
"Mas é claro que tem, meu amor!"
O gato se vai, e, ao se dar conta de que está sozinha de novo,
Mamãe Ganso se dá ao direito de
debruçar-se na janela e deixar que a lua
despeje uma gota prateada que desenha caminhos em sua bochecha rosada
Mas logo desperta e volta a sua rotina atarefada
Enquanto passa o lençol com o ferro em brasa, pensa:
"Permitir-se sentir falta é para poucos
Privilegiados são aqueles que podem deixar-se vazios
a espera de serem preenchidos.
Eu não tenho tempo para isso!"
Mas, antes de dormir, ao soprar a lamparina,
quando já os guardas do pensamento estão indo dormir,
um último vagalume invade sua casa:
"Ou talvez me falte a coragem..."

O Início da Descoberta

A descoberta do mundo começa
Justamente quando a gente para de olhar para fora
Quando a vida nos dá uma rasteira e nos obriga a parar
E deixar de dar as mesmas desculpas
Então somos obrigados a filtrar todo o barulho de que nos cercamos
E percebemos que estes são apenas reflexo do que de fato habita em nós
Quando dentro e fora se separam
E é possível perceber-se ator ali, naquela cena em que se acreditava ter pago só pra assisitr
E sofrer com o que o destino lhe impõe
Então o drama se transfigura em tragédia
E não se tem mais saída
Porque a gente pode fugir de tudo, menos de nós mesmos
E então, diante do inevitável, ousamos ir levantando,
bem aos poucos, as camadas de véu que nos separam daquele palco
E todas as fantasias tão caras e brilhantes já não vestem tão bem
Ali, nus, iniciamos nossa jornada
Sem bússola, nem um companheiro de viagem
A descoberta do mundo é solitária
E só pode ser realizada individualmente.