terça-feira, 4 de maio de 2010

E de repente, me vi velha demais
Com medo demais, séria demais
pensando dez vezes antes de explodir, em choro ou em riso
E o grito preso na garganta
pequena demais pro tamanho todo que eu poderia ocupar
Não cabendo mais no espaço que dispendi pra mim
Mas faltando coragem pra reivindicar um espaço maior
Que aconteceu com aquela menina cheia de sonhos?
Que antes achava que ia longe...
Se antes se deixava levar, sem perguntar
hoje, ao saber as respostas, tem medo de percorrer o caminho
Porque acha que sabe onde vai levá-la
E não está mais disposta a pagar o preço
Se agora sabe que não vai chegar num passe de mágica
Mas sabe como construir o caminho
Se agora a vida a convoca a vivê-la
não mais no mundo fantástico dos deuses
mas na Terra, vermelha e quente
Então há que se aprender o dialeto dos conterrâneos
novo, intenso, cheio de relações, laços e armadilhas
Onde não dá mais pra ser de sonho
Tem de ser real, palpável, humana
Tem que escancarar os defeitos, as indecisões, a implicâncias
Aprender a dar a cara a tapa
E a bater quando necessário
Na porta alheia, na cara alheia, no próprio peito
E assumir quem se é, de verdade
E ter coragem de dizer, mesmo que contrarie o outro
invada um pedaço do espaço
Afinal, se se está vivo, se ocupa espaço
Nas casas, nos corações das pessoas
Mas, pra poder fazer isso, é preciso antes descobrir:
que outro modo além do "não" existe?
Que espaço eu ocupo?
que espaço dou conta de ocupar?
Como eu sustento o meu espaço e ainda deixo espaço pro outro?
Pra ele entrar na minha vida sem tomar conta dela?
E sem eu tomar conta do outro?
Enquanto não se decide, o coração sofre, apertado, sufoca no pequeno espaço
Reivindica, não cabe mais
A distância entre a cabeça e as pernas já não serve
tem que ser maior, pra poder abrir as asas
Ficar de pé e ver de que tamanho se tornou
Sem medo nem vergonha de se tornar quem na verdade já se é
que difícil dar conta de sustentar esse lugar que já ocupa
Mesmo já tendo tantas respostas
Que lutou tanto pra obter
Agora guarda
E fica se escondendo
Caindo pelas tabernas
empanturrando-se
pra saciar o dragão,
que insiste em despertar, incomoda, arranha
Como tornar-se quem já se é?
Como responder de outro lugar?
Rompendo com a segurança do lar?
alçando vôos mais altos
Como deixar prá trás o medo de deixar as coisas pra trás?
Se se pode ir tão longe, porque manter os pés atados?
ai, coração, paciência...
Porque você já é alado, mas as costelas insistem em te prender
E elas ainda fazem parte de mim
Preciso aprender a medida exata
pra te deixar sair
sem te perder de vista
e te ensinar o vleho ditado:
"Quando se perde em amor,
se ganha em respeito"

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