sábado, 26 de fevereiro de 2011

NAVEGANDO EM ALTO-MAR

Depois de navegações em mares ora conhecidos, ora mais profundos,
Encontrei-me na Terra do Desejo
Desenterrei das entranhas o mais precioso tesouro
E descobri a mais poderosa arma de que um ser humano pode dispor

Porém, ao retornar à velha civilização,
no confronto com a demanda do Outro,
com medo de perder tão recente conquista
Me perdi ao tentar protegê-lo de não sucumbir a ela,

Hasteei a bandeira da terra recém conquistada
Marcando a passos largos: eu tenho um Desejo
Construí um altar para situá-lo e dà-lo a ver
Porém, me abstive de usufruir dele,
ao sair para o campo de batalha e afastar dele a demanda imperiosa, com medo de contaminá-lo...
...me perdi

Me percebi defendendo o território
e, de tão concentrada na batalha, esqueci o que defendia
Meu navio naufragou ao dar-me conta de que visava mais invadir território alheio,
impondo a língua recém descoberta à terra nativa
Em vez de fazer uso dela,
Sem primeiro descobrir o que fazer com ela
Só depois compreendi que para poder falar uma outra língua
é preciso primeiro ensiná-la ao outro
Mas antes é necessário eu mesma aprendê-la

Se é por meio do desejo do outro que de primeiro encontramos uma possiblidade para o nosso
Se é pisando nos passos que ele trilhou que aprendemos a andar
e depois que nos encontramos com nosso próprio caminho?
Como não ofendê-lo ao dizer que agora temos nosso próprio rumo a seguir?
e como este caminho, único, se encontra com o dele?

Ai, difícil missão de ser no meio de outros seres
De ser sem ser para o outro, mas sem se incomodar com a presença dele
De prescindir da presença, mas não se ofender com ela
Não culpabilizar o outro pelos territórios selváticos de seu país,
mas não me sentir tentada a povoá-los

Não precisar atacá-lo por seu pedido,
mas agradecer a oferenda alheia
Não encarando a recusa como declaração de guerra
Sem a conotação de que construindo uma rota inédita de navegação
Esteja naufragando o porto de origem

E poder partir em paz
Sem me perder
de poder voltar
para o outro
e para mim mesma.